segunda-feira, 2 de maio de 2011

LEITURA BÁSICA DE ACESSO A TODOS

Era uma vez, um vilarejo onde vivia uma menina chamada Maria Joseane Lima da Silva. Ela morava com os nove irmãos e outras 56 famílias no sítio Pajeú Mirim, localizado no pobre e árido município de Tabira, a 400 quilômetros do Recife, em Pernambuco. Tais circunstâncias, porém, não impediram que a garota tivesse uma infância repleta de histórias. Mesmo sem livros, seus pais enchiam seu universo de fantasias por meio de gestos e palavras. Aos 23 anos, ela se tornou professora e conseguiu, com a leitura, realizar o grande sonho de melhorar a vida das famílias rurais de sua região.

Para sua sorte, Joseane foi beneficiada com um dos tantos projetos de disseminação da leitura espalhados pelo país. Capitaneados pela iniciativa privada ou pelo governo, esses projetos levam o mundo das letras a quem tem pouco (ou nenhum) acesso a ele. Infelizmente, o mesmo não acontece com milhares de pessoas que não têm o privilégio de deparar com uma estante cheia livros. "Embora haja na maioria dos municípios brasileiros pelo menos uma biblioteca, fora dos centros urbanos ela é praticamente inexistente", afirma Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

Outro componente desse triste cenário, e que torna a leitura ainda mais inacessível, é o analfabetismo funcional, representado por aqueles que possuem conhecimentos rudimentares da língua, mas são incapazes de ler ou interpretar textos. Segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2009, esse contingente beira os 30% da população brasileira. "Seja por falta de tempo ou por dificuldade de aprender, o adulto que pouco ou nada estudou não tem ânimo para retomar as aulas", afirma Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto de Analfabetismo Funcional (INAF). "Os jovens que hoje têm acesso à educação sofrem com a má qualidade do ensino", diz Ana Lúcia. Segundo ela, é preciso estimular maneiras de oferecer um bom estudo e mostrar que a leitura, além de importante, pode ser interessante.

Para piorar, precisamos nos lembrar de que o preço dos livros não é nada convidativo. Muito pelo contrário. "Mesmo que ele venha caindo nos últimos anos, o valor ainda não equivale ao poder aquisitivo da maioria da população", afirma Rosely Bosquini, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Isso porque são as classes A e B as que mais compram, segundo a pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, de 2008. Mesmo assim os índices de leitura são bem baixos para essa parcela da população: 5,4 livros per capita por ano. "Estamos discutindo no Ministério da Cultura formas de a classe C, que hoje é maioria na população, ter acesso ao mesmo conteúdo de determinado livro, mas com um preço bem mais acessível", diz Galeno Amorim.

A boa notícia é que a cada dia surgem inúmeras soluções para aproximar o livro do leitor. Tais iniciativas estão reunidas no portal do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), criado pelo Ministério da Cultura em 2006 com o objetivo de organizar, estimular e reunir ações que envolvam incentivos à educação. Até agora há mais de 830 medidas criativas que vão desde poesia em filas de banco, na Bahia, passando pela leitura para a população ribeirinha dos rios do Amazonas, até grandes projetos.
Fonte: Patricia Bernal / Carla Leiner

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